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quinta-feira, 22 de julho de 2010

A vida do cantor Marcio Victor


O cantor Marcio Victor, sem dúvidas, é o artista do pagode, ou samba percussivo, como ele prefere denominar o movimento, que mais cresceu nos últimos tempos. Depois da era Harmonia do Samba e Xanddy, Marcio Victor e sua banda Psirico sempre foram alçados como representantes do movimento em todo o Brasil. Está certo que, por trás disso, tem uma grande produtora, a Penteventos, mas de nada adiantaria qualquer aparato de produção e assessoria se a banda não fosse boa e o vocalista competente. Para provar isso, no ano de 2008 o Psirico só teve a agradecer ao seu público, principalmente por ter levado o título de melhor música do carnaval: “Acho que não foi uma surpresa porque a música tem letra, tem ritmo e o povo aprovou. Logo que começaram os ensaios tive a certeza da força que tinha essa música”. Marcio Victor fala também sobre a relação com outras bandas de pagode da Bahia, em especial com o Fantasmão, que agora também faz parte da Penteventos, e sobre a briga que teve com Bell Marques. Leia abaixo a entrevista que aconteceu de maneira descontraída no lançamento oficial do bloco Furacão, no restaurante Barbacoa:


Coluna Holofote: Pra começar, você acha que canta ou toca melhor?
Marcio Victor:
Acho que hoje estou cantando melhor do que tocando, porque eu canto o tempo todo. A música do Psirico vem dando certo. Além disso, fui indicado como melhor cantor ao lado de Durval e Bell e, por isso, estou muito mais empolgado com o canto do que com a percussão. Mas a percussão para mim é uma base muito forte, pois foi a partir daí que criei o meu estilo de cantar. Meu estilo de cantar é muito novo e eu creio que vai virar certa tendência pela questão de eu cantar diferente de outros cantores que tem por aí.


CH: Dos artistas com os quais você se apresentou tocando, qual o que mais deu trabalho?
MV:
Acho que foi Glória Stefan. Ela é uma pessoa muito complicada de trabalhar, mas eu tinha que entender que ela era complicada porque queria o melhor de quem estava ao lado dela. Mas não foi difícil, na verdade foi um aprendizado.


CH: Você, que tocou com grandes estrelas da MPB e da música internacional, sofreu muito preconceito ao assumir o Psirico?
MV:
A gente sofria muito preconceito porque tudo o que vem do guetho, a alta sociedade acha que é marginalidade, criminalidade, falta de responsabilidade. E também tem o fato de eu ter começado muito jovem. Mas a gente vem vencendo essas barreiras. Prova disso é que vamos tocar mais uma vez no Festival de Verão, entre outras coisas.

CH: E porque o Psirico está conseguindo ultrapassar essas barreiras?
MV:
Porque a gente vem trazendo os problemas sociais nas letras e coisas que não são tão agressivas e grotescas como letras pejorativas e de duplo sentido que fazem por aí.

CH: Mas desde o início o Psirico segue essa vertente?
MV:
Segue, sim. A gente não apelou ainda [rsrsr]. Conseguimos tocar nos maiores eventos e nossas músicas com letras bacanas sempre estão em boas colocações nas rádios.

CH: Você não acha que muitas bandas de pagode continuam utilizando letras que depreciam o movimento?
MV: Muito. Mas devem acabar com isso. Tem bandas que pouco estão se preocupando e que querem que o ‘preto’ seja visto como escravo, sendo que eles nunca nem leram sobre escravidão. Mas o bacana é que conseguimos fazer com que algumas bandas que, antes do Psirico, pensavam e trabalhavam de uma forma, hoje trabalhem de uma forma diferente, melhor.

CH: Foi uma surpresa para você a música do Carnaval ter sido “Mulher Brasileira”?
MV:
Eu sou muito metido com isso aí [rsrsrs]. Acho que não foi uma surpresa porque a música tem letra, tem ritmo e o povo aprovou. Logo que começaram os ensaios tive a certeza da força que tinha essa música.

CH: Você acha que se não fosse a força que Ivete deu a essa música, vocês levariam o título?
MV:
Sim. Eu acho que ela deu uma força muito grande, mas Ivete já tinha visto que a “Mulher Brasileira” estava na boca do povo, e como o Psirico é uma banda que ela deu muita força, ela decidiu apoiar nossa música. Claudinha e Margareth também deram força. Daniela, que nunca tocou pagode na vida, cantou “Toda Boa”.

CH: Você acha que a relação que os artistas da Bahia têm com o Psirico é diferente de outras bandas de pagode ou samba?
MV:
Acho que isso acontece porque somos ousados, sempre vamos na veia da música. A gente veio do guetho, mas sempre com a responsabilidade de fazer trabalhos não só pra concorrer com bandas de pagode e samba, mas com artistas como Daniela, Ivete, etc. E também não adianta fazer música só para que ela seja comercial, tem que ser música boa. Eu quero defender essa música do guetho e do povo. Acho que o Psirico é a nova música da Bahia e do Brasil, a nova cara do Brasil, mas com uma maneira muito leve de falar das coisas.

CH: Houve algum tipo de desentendimento entre você e Bell Marques por conta da disputa da música do carnaval?
MV:
Teve briga, a gente saiu na porrada [rsrsrsrrs]... Brincadeira, viu?! Mas teve briga, sim. Eu brigo, Ivete briga, todo mundo briga. A gente quer ganhar, quer que a música da gente ganhe, e Bell também. Acho que aquele que não briga por seus objetivos é porque que não tem mais vontade de ganhar; e aquilo mostrou que Bell também queria ganhar a música do carnaval. Esse ano nós ganhamos, mas é claro que quando vier uma música do Chiclete que caia na boca do povo, ele vai ganhar, mas não adianta precipitação. Tudo acontece na hora certa. Esse ano foi nosso e ninguém tira, não adianta ficar nervoso [rsrsrs].

CH: Qual a diferença do Psirico para as outras bandas de pagode?
MV:
Na verdade eu não gosto muito dessa rotulação do nome ‘pagode’, prefiro ‘samba percussivo”. Mas acho que as outras bandas deveriam assumir que não são de pagode, que deveriam se preocupar com a qualidade da música. Acho que eles deveriam também pesquisar e misturar mais músicas como eletrônica, techno, etc.

CH: Mas você não tem medo da rejeição do público com essas misturas?
MV:
É aí que está o lance melhor porque o público tem o direito de rejeitar. Quando ele rejeita está dizendo que algo precisa melhorar. E a opinião do povo é fundamental.

"Eu não gosto muito (Fantasmão),porque as letras são pesadas"

CH: O que você pode falar sobre as bandas que estão surgindo, inclusive tem o Fantasmão, que agora está na mesma produtora do Psirico, a Penteventos.
MV:
Eu não gosto muito. Não gosto porque as letras são pesadas e isso está abrindo uma lacuna para o hip-hop se hospedar na Bahia de uma maneira muito negativa; a violência está crescendo e eu acho que a gente tem que se preocupar por isso. Não concordo com essas letras, porém, acho que o menino (Eddye) é muito talentoso, ele tem uma coisa que nem todo artista tem, que é atitude; quando ele tem que falar das coisas ele fala mesmo. A banda também é muito boa, de repente pode ser massa para a Penteventos ter eles lá.

CH: Mas você não acha que as atenções serão divididas entre Psirico e Fantasmão?
MV:
Não, porque a gente já tem um nome feito, um espaço garantido, e inclusive vamos tocar no palco principal do Festival de Verão novamente. A gente está conseguindo coisas muito mais além do que disputar com bandas, mas acho que deve existir respeito sempre das bandas que estão chegando depois do Psirico; e sempre tratarem o Psirico como objeto do lustre de casa; polir o Psirico porque é importante para o movimento, pois somos uma banda defensora que abriu e quebrou preconceitos. Acho que tem que haver respeito como eu respeito Ivete, o Harmonia do Samba, etc. Xanddy para mim é um dos maiores artistas da Bahia, ele tem um estilo muito particular e o samba dele é bem diferente.

CH: Como está a agenda para o verão do Psirico?
MV:
Ah, é muito show [rsrsrs]. A gente toca muito fora da Bahia, aqui é bem
pouco. Estamos ensaiando toda quinta-feira no Museu do Ritmo. Caetano (Veloso), Marisa (Monte) e Ivete sempre vão aos ensaios sem avisar, então pode esperar novidades [rsrsrs].



CH: E como está o carnaval?
MV:
É um momento muito emocionante lançar o nosso bloco, o Furacão, que sai com o Psirico e Saia Rodada na Barra. Tem o bloco Skol, que também vamos puxar um dia, tem as Muquiranas e o Alô Inter, que puxamos outros anos. Esse verão e esse carnaval serão maravilhosos.

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