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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Frases

“Sinto falta de quanto sentia minha falta”, pensei em dizer naquela ligação impessoal feita apenas para ouvir tua voz quando a saudade estava prestes a perfurar minhas entranhas. A dor tornou-se mais aguda enquanto aguardava a chamada ser completada, me vi sentada no meio da sala, segurando o telefone com desespero. Ao ouvir tua voz do outro lado do fio, perguntei-me aonde estarias, com quem estarias e porque raios não estava junto de ti. Sempre me causava essas reações quando desaparecia em mais uma de suas fases eu-não-quero-precisar-de-ninguém e finge nunca ter existido uma eu - ainda que pequenina - ocupando um espaço minúsculo em teus dias. Parecia um tanto cansado, ao fundo havia barulho que transformava sua voz em um sussurro cansado. Senti uma pontada no peito causada pelo descaso de sua entonação. “O que é que você quer?”, disse rispidamente, mas o som alto da festa - só consigo imaginar-te curtindo a vida enquanto eu, boba, te espero todas as noites -, e pensei em responder: “Eu quero você. Sua voz mansa no meu pescoço tenso. Seu beijo urgente na minha nuca arrepiada. Sua mão quente em meus dedos frios. Seu abraço no meu corpo quase sem vida, inerte desde que você, em mais uma de suas fases de diversão infantil, me deixou aqui, sozinha e tua”. Ao invés de pronunciar cada palavra que desejava, nada dissera, e repetiste a pergunta: O que é que você quer? - Dessa vez, a impaciência tornou-se maior que o barulho, e meus ouvidos traduziram cada sensação contida naquela palavra. Indiferença, ansiedade. Sentia do outro lado da linha seus dedos tremendo na ânsia de acabar a ligação, e algo dentro de mim se rompeu. Era a esperança. Depois de tuas palavras, ela simplesmente se foi, desejando-me sorte e pronunciando um pedido de desculpas antes da porta bater fortemente e quase derrubar um quadro preso na parede. Mesmo partindo, em todas as ligações desesperadas que fazia durante a madrugada, sempre senti doçura em tua voz. Por vezes, escutava sua respiração dizendo volto-logo-para-você, e meu coração acalmava, sabendo que retornarias e meus dias seriam novamente escritos com tua letra de mão. Desta vez, tudo era diferente. Não retornarias. Algo dentro de mim sabia que não querias voltar. Fase fora eu, tola, romântica, pensando que sempre voltarias porque - apesar desse teu jeito de que prefere ficar só - me amava, me sentia, me queria. Respirei fundo, e disse: “Te cuida bem, por favor”, completando comigo mesma, “pois não mais o farei por ti”. Desliguei o telefone. Te desliguei de mim.
Gabriela Santarosa 

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